Vida de escritor
Miguel escreve contos em uma revista semanal de circulação nacional. Também escreve crônicas duas vezes por semana. Crônicas essas que são publicadas em jornais de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Goiânia, e em mais 14 cidades cujos nomes Miguel raramente consegue lembrar.
Nas livrarias - buscando na seção literatura brasileira, subseção contos e crônicas, por ordem alfabética de sobrenome de autor, na letra J - podemos encontrar treze títulos escritos por Miguel. Onze são coletâneas dos melhores textos anteriormente publicados em jornais ou revistas. Dois são publicações de contos inéditos.
Além disso, já escreveu dois romances, ambos publicados por uma grande editora. Ambos foram elogiados pela crítica, com direito a um prêmio Jabuti e tudo. E mais importante, ambos tiveram vendagens acima do esperado.
Paulistano de nascimento, Miguel hoje vive em Florianópolis. Mora em uma casa na beira da praia, e faz da varanda seu escritório, graças à invenção do laptop. Muitas vezes escreve seus textos enquanto vê sua filha Luisa, de sete anos, brincar na areia da praia, e tendo como companhia seu filho Mateus, de três anos, cochilando na rede ao lado.
Ao contrário de muitos escritores, não faz questão de ler tudo o que se publica sobre seu trabalho, muito menos de guardar os recortes de jornais e revistas. Até porque ele sabe que tanto sua mãe como sua esposa já fazem esse trabalho melhor do que ele seria capaz.
Sujeito falador, Miguel gosta de dar entrevistas. Principalmente porque não se fazem perguntas pessoais a escritores. Às vezes o incomoda um pouco ser chamado para opinar em assuntos tão diversos quanto a taxa de juros e o último show do Carlinhos Brown, já que por alguma razão os meios de comunicação o consideram um formador de opinião. E assim, lá está Miguel repercutindo todo e qualquer acontecimento.
Poderíamos chegar ao extremo de dizer que Miguel tem o que muitos chamariam de uma vida perfeita. É muito bem pago para fazer o que gosta, trabalha de frente para o mar sem sair de casa, é unanimemente reconhecido por seu talento, mas conserva sua privacidade intacta e, além disso, tem filhos lindos.
Miguel reconhece que é uma pessoa privilegiada e agradece a Deus por tudo o que conseguiu, mas não é um homem feliz. O que ele queria mesmo era ser poeta.