O Astronauta
Deitado sobre a mesa deslizante, Bruno era só expectativa. Ao seu lado uma mulher bonita, toda vestida de branco, segurava uma seringa de injeção. Tinha medo de injeção desde suas primeiras lembranças, mas isso não era nada comparado ao entusiasmo de fazer seu primeiro vôo espacial.
Enquanto sentia o algodão umedecendo seu braço e a agulha fria dando a primeira picada, imaginou-se dentro das roupas especiais com o símbolo da NASA, segurando o capacete enorme debaixo do braço direito e acenando para a multidão enquanto atravessava a passarela que o levaria para dentro da aeronave.
Terminada a injeção, a máquina de tomografia começou a funcionar. Bruno levantou um pouco a cabeça e olhou para dentro do tubo onde seu corpo escorregaria em breve. A máquina era bem mais barulhenta do que imaginava, mas respirou fundo e se preparou para o exame.
Enquanto a mesa e seu corpo iam deslizando para dentro do tubo, sentia-se cada vez mais perto de realizar o seu sonho. Um sonho que todas as crianças já tiveram um dia. Um sonho que parecia impossível, mas que podia se realizar. Que estava a poucos dias de se realizar.
A cabine da nave não deveria ser muito maior que aquele tubo, mas pelo menos não ficaria o tempo todo com as mãos e os pés amarrados. Provavelmente não teria muito espaço para se mexer, mas teria tanto trabalho pra comandar a nave espacial que não sobraria muito tempo pra ficar se mexendo. Pilotar uma nave espacial é muito difícil.
Dentro do tubo, o barulho era muito mais alto, e as paredes ficavam se mexendo o tempo todo, pra lá e pra cá, indo e voltando. Bruno ainda não tinha certeza de qual seria a melhor parte da viagem. Talvez fosse ver a Terra lá de cima, toda azulzinha, coberta de nuvens e tudo. Ou talvez fosse a volta, quando seria recebido com festa e daria muitas entrevistas.
Estava tão entretido com a festa de sua chegada, que nem percebeu que o exame já tinha acabado. Levantou-se da mesa e foi para a sala de espera, onde ganhou um chocolate e ficou lendo gibis até ser chamado pelo médico.
O doutor Leandro, que tinha cabelos escuros e o bigode cinza, explicou tudo direitinho pra ele. Teria que fazer quimioterapia. Isso não podia ser muito bom, porque sua mãe chorou bastante. Mas Bruno preferiu fazer de conta que quimioterapia era um tratamento especial de astronauta, pra poder andar na lua. E foi isso que ele falou pra todos os seus amigos da escola, que ficaram morrendo de inveja.